Quanto maior a verdade, maiores os danos

30 jul

Texto: Rafael Balago e Rafael Ciscati (2º ano – ECA-USP) / Foto: Raissa Pascoal

Como investigar crimes praticados por empresas de grande porte, cujas atividades impactam milhões de pessoas, mas que se protegem atrás de assessores de imprensa e administrações fechadas? “Comece pela internet. Nem tudo está online, mas sua pesquisa começa por lá”, ensinou Lowell Bergman, professor de jornalismo nos EUA e correspondente do New York Times. Em companhia de Ivana Moreira, Lowell participou da palestra Investigações de Empresas Privadas, no 5º Congresso de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji.

Lowell Bergman e Ivana Moreira discutem como investigar empresas

Lowell Bergman e Ivana Moreira discutem como investigar empresas

Além da internet, as comissões que fiscalizam as operações financeiras podem ser importantes fontes, pois registram as transações realizadas pelas empresas ao redor do mundo. Outras fontes são os balanços financeiros, relatórios e processos que correm na justiça. Além do faro para encontrar estes documentos, é preciso paciência e atenção para lê-los. E lembre-se de ler o final dos documentos, onde escondem-se os registros de irregularidades. “É nesta parte que você encontra o que realmente importa para você como jornalista”, sentenciou Bergman.

E quanto mais relevantes forem os fatos levantados, mais prejuízos podem trazer às pessoas envolvidas no crime. “Quanto maior a verdade, maiores os danos que ela pode causar”, lembrou o professor. Pior ainda se sua investigação pode prejudicar o veículo em que você trabalha,caso a empresa jornalística tenha relações financeiras de qualquer tipo com as companhias sob suspeita. “Sempre apresento minhas coberturas como o registro de um crime. Abordar um crime é um serviço público, e o assunto vende bastante jornal”, contou o correspondente.

Ivana concorda – sempre que as finanças do jornal estão em jogo, mais difícil convencer a direção a publicar a matéria. Atual chefe de redação da BandNews FM em Minas Gerais, Ivana passou anos da carreira encarregada de cobrir empresas para o jornal Valor Econômico.  E sabe: se uma investigação põe em risco a receita publicitária do veículo, a decisão de levá-la adiante é ameaçada: “Para as empresas jornalísticas, é sempre difícil investigar seus próprios anunciantes”.

Tal situação é mais rara se houver envolvimento do governo: “Quando a história inclui corrupção governamental, é impossível um jornal deixar de cobrir”, defende. “Foi na fiscalização de corrupção relacionada a governo que a mídia brasileira mais avançou”.

Por conhecer a área, Ivana torce pelo dia em que, no Brasil, existirão os mesmo recursos disponíveis em países como os EUA: “Existem recursos fora do Brasil, de acesso a documentação, que inexistem no Brasil”. Por aqui, afirma, ainda é preciso seguir pelas vias tradicionais, e tentar cultivar boas fontes. A dica, qualquer que seja o país, é sempre a mesma: “Siga o dinheiro”.  Saber ler balanços de empresas é fundamental. A partir deles podem surgir pistas para uma matéria, ou mesmo uma pauta. É também importante procurar processos que pesem contra elas.

Segundo diz, no entanto, não se pode deixar de ter fontes “abaixo da linha do media training”, aquelas pessoas que não são treinadas para lidar com a imprensa, mas que possuem informações importantes. Eles podem dar detalhes sem nem mesmo perceber. Procurar por fontes contrárias também é boa opção: antigos diretores, ex-funcionários que, pelo seu vínculo anterior com a empresa, conheçam histórias que ainda não vieram à tona. Nesses caso, toda cautela é pouca.

Clique no nome da palestra para fazer o download da apresentação, e no nome do(s) palestrante(s) para visualizar o(s) currículo(s):

Investigação de Empresas Privadas

Ivana Moreira – ivanamoreira@hotmail.com

Lowell Bergman

O 5º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi, com o patrocínio de Claro e Tetrapak, o apoio do Centro Cultural da Espanha em São Paulo, do Knight Center for Journalism in the Americas, do Open Society Institute, da Ogilvy, do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo e a parceria do Fórum de Acesso a Informações Públicas, do Centre for Investigative Journalism , da Unesco e da Oboré.

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