Texto e foto: Thiago Fuzihara Crepaldi (4˚ ano – Cásper Líbero)
Adriana Carranca define-se como uma jornalista social. Para ela, “todo o nosso trabalho deve ser voltado para a melhoria de vida da população”. O desafio atual é o de descobrir a melhor forma de cobertura dos programas sociais. “Os indicadores das pesquisas servem para o jornalista construir a sua pauta; na apuração é essencial que ele saia da redação”, disse.
Reconheceu alguns avanços no que diz respeito à fiscalização aos políticos, como a aprovação do Ficha Limpa, que já entra em vigor para esta eleição. No entanto, ainda no tema político – o qual está designada para cobrir, no jornal O Estado de S. Paulo –, criticou a falta de compromisso dos candidatos com suas campanhas: “A marca do mandato de Marta [Suplicy] como prefeita [de São Paulo] foi o CEU, sendo que essa proposta não apareceu em seu plano de governo. Ninguém estava preocupado com o plano de governo, nem os políticos e nem os cidadãos. Isso está se modificando. É a criação de uma nova cultura política – ainda que esteja no âmbito da fofoca política”.
Cobrou das universidades públicas uma participação maior na vida da população: “O mestrado ou doutorado de um aluno da USP é pago pela população de todo o estado. A Academia tem que retornar esse trabalho que foi feito; não podem ficar restritos às universidades, como se fossem um trabalho de inteligência”.
Entrando mais nas questões de programas sociais, ela disse que o jornalista que se dedica a esse tema precisa duvidar sempre dos números e dos especialistas. “Nunca há consenso na aprovação de um programa social. Sempre terá alguém que o acha ruim; outro que o acha mais ou menos e um outro que o acha muito bom. Além da divergência de opiniões, há também muitos indicadores que mascaram, que enganam, que contrapõem, que contradizem. Os números enganam bastante; são passíveis de várias interpretações.”
Para ilustrar, a jornalista deu um exemplo: um município com 100% das crianças em idade escolar matriculadas pode esconder uma realidade cruel. Uma alta mortalidade infantil somada com um bom secretário de Educação chegam a esse resultado. Ou seja, as crianças só estudam porque parte delas não chegou até a idade de se matricular – morreu antes.
Sobre a reportagem “Dois Brasis”, que lhe conferiu o Prêmio Estado de Jornalismo em 2003, mostrando o abismo social entre a melhor e a pior cidade do país, tendo como base o índice de desenvolvimento humano, ela revelou uma curiosa observação: “A diferença na expectativa de vida da cidade mais rica para a mais pobre era de vinte e quatro anos. Na cidade mais pobre não havia velhinhos. Não tinha uma pessoa com cabelos brancos; todos morriam antes de chegar nesse estágio da vida”.
Adriana Carranca mantém um blog no Estadao.com, sobre direitos humanos.
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Como fiscalizar programas sociais
Adriana Carranca – adriana.carranca@grupoestado.com.br